Ela o mandava embora com pressa, como se fosse óbvio para os dois que aquela relação não tinha mais um lugar para ser. A feição dele passava da surpresa para o choque conforme ela dizia fragmentos do que queria. Eram ideias soltas sem uma narrativa que as amarrasse ou um cuidado que as despejasse de maneira mais palatável.
O episódio havia contado sua história familiar e, por mais que suas escolhas fossem questionáveis, elas eram compreensíveis. Mas Mia - nome da personagem da série a qual eu estava assistindo - tinha motivos. Por mais que ela própria não entendesse. O narrador e os roteiristas da série faziam questão de nos explicar.
Mas confesso que eu não sabia qual era minha desculpa. Não fazia ideia de onde vinha o meu medo de me envolver. E do porquê eu achava que relacionamento era como uma erva daninha. Eu gostava de gostar até certo ponto. Até certo mês, lugar, situação. Até chegar naquele momento.
Em que você é completamente tomado por sensações e sentimentos que te fazem te desconhecer de quem você é. E dito assim, poderia até encantar alguém, mas não a mim. Isso me desespera. Me sufoca. Esse pedaço gelatinoso que gruda e aglutina me deixa sem saber o que fazer.
Meu primeiro pensamento é fugir e eu confesso que sou muito boa nisso. Digo que preciso de tempo e espaço, mas na verdade preciso de mim sem interferência. Preciso do silêncio pra conseguir pensar em como posso sair dali intacta. E eu sempre saio, mas para minha tristeza, nunca igual a quem eu era antes.
E ali, no rosto de Mia, reconheci o alívio que ela sentia, mas também me relacionei com sua culpa e certeza de que ela era melhor sozinha. Era minha primeira vez assistindo essa série, mas infelizmente eu já tinha visto esse filme.
Texto inspirado nesta série. Apenas linkei, nem vou mencionar o nome para não dar mais spoilers.
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