O pantanal tá queimando e eu não consigo
ver uma saída pra retroceder.
O tempo tá passando estranho e
há um ano eu podia te ver.
Hoje só dá engano
e eu não posso ir até você.
Os meses tão se demorando,
mas a minha idade não demora a aparecer.
Eu sinto o clima pela minha porta
e da janela vejo a cidade.
Vejo a areia lotada de almas
entortando a curva
com serenidade.
eu continuo sempre desleixada,
sem saber o que quero pra mim.
viver da arte, me vender em sampa
ou uma vida mochileira enfim.
se eu não decido,
sei bem que a vida
decide por mim.
mas desse ponto eu não gostei nadinha
e não me atrevo
a descer aqui.
se me desmancho na sacada,
tenho certeza que tenho plateia.
sem reembolso,
a peça livre é da garota que não tinha ideia.
a relação que tenho com essa casa
é quase de dependência pura.
é uma mistura assim de gratidão
e prisão que construí
numa hora bem escura.
o teto sempre mudo vê
que as paredes falam
pelos cotovelos.
e eu sei que quando pulo,
cai em outro andar
cada um dos meus joelhos.
à minha direita,
sempre me escutam
cantar e conversar.
e no banheiro,
quando sento ouço alguém
que não consegue mais aguentar.
eu nem sei mais sair
de fininho e nem me espanto
quando alguém chega.
de intervalos em intervalos,
são as mesmas pessoas
voltando a ficar presas.
e eu sempre no meu quarto
revisitando memórias perdidas,
esperando em frente ao relógio
que horas termina essa agonia maldita.
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