Estou cansada de matar formigas.
Uma a uma, elas vão me desconcentrando. Me fazem revirar os olhos, tirar as coisas do lugar, tudo para obter um melhor ângulo de ataque. Às vezes, confesso que até perco o apetite com tantas mortes.
Dependendo do horário, são muitas. E quanto maior o número, mais inconveniente a situação se torna. Deixei de usar relógio no pulso, porque sempre que eu o olhava procurando as horas, encontrava uma delas me escalando.
O que me tornava um ponto tão interessante de escalada? Saberiam elas que eu era a assassina secreta de seu grupo? Ou seria eu um mero meio de transporte conveniente o bastante para valer o risco de ser capturada?
Seriam elas unidas? Duas ou três serviriam de isca como sacrifício para o restante? Eu matava quase que inconscientemente, pelo hábito, e não porque temia um ataque sorrateiro.
Haveria um ataque sorrateiro, mas barulhento o bastante para me acordar durante a noite e não me fazer pegar no sono quando todos fazem o mesmo?
Elas passaram o verão inteiro me pregando peças e eu estive seguindo os seus planos. Matei dúzias na parede, nas mesas da sala e no meu corpo.
Evito deitar no chão gelado com medo de que elas subam e nunca mais sejam encontradas.
É como se eu fosse feita de migalhas. Volta e meia, eu sinto o toque, o andar demorado de alguma enquanto percorre minhas pernas, meus braços e minhas costas.
Haveriam muitas dentro de mim?
Eu estou cansada de matar formigas.
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