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rabiscos sobre o que já fui.

Lembro-me de quando eu era criança e fazia inverno e eu usava meias para dar qualquer passo dentro de casa. às vezes, meus pais erravam a mão no detergente quando lavavam a sala e não importava o quanto eles encharcassem o chão pra compensar, tudo ficava lisinho lisinho por pelo menos três dias. e eu fazia a festa. 

chegava da casa da minha vó, arrancava fora os tênis como quem solta o cabelo depois de ficar o dia todo preso. e deslizava por aquele chão. ligava a tv. e via qualquer coisa que eu gostasse enquanto patinava no gelo e me sentia rápida, habilidosa no piso. meus pulos eram saltos triplos. 

a sala, lisa ou não, costumava ser meu palco. ali eu dava shows, recriava cenas de séries e filmes que eu gostava, ensaiava vidas que eu imaginava viver algum dia. criava cabanas e fazia rapel ao enrolar a rede de diferentes jeitos no gancho da pequena sacada. lambia o prato ao fim de um miojo, só porque eu era apaixonada por queijo ralado e não tinha como desperdiçar. 

comia brigadeiro de colher enquanto jogava no computador um pacote de jogos que meu primo havia instalado. passava a tarde de sábado na locadora com meu pai procurando minuciosamente o que levaríamos pra assistir. era uma importante escolha que definiria o tom do fim de semana. 

sempre dormia no trajeto para o mercado, que durava cinco minutos. na verdade, demorando mais do que dois minutos, eu caía no sono. recusava bolo de festa pra sobrar mais espaço pros brigadeiros. comia alfajor da turma da mônica escondida porque não aguentava comer apenas um por dia. 

via chaves enquanto almoçava com meu avô, que fazia questão de me esperar chegar da escola pra comer. amava pegar elevador sozinha só pra cantar o mais alto que eu conseguisse sem que ninguém escutasse. 

amava o esquema da terceira série: a cada semana, a gente mudava de lugar na sala e depois de uns dois meses, percebíamos que tínhamos conversado com todo mundo da turma. 

só tomava sorvete da kibon, o de frutilly no verão e o de floquinho no inverno. as músicas que tocavam nas viagens eram sempre as melhores. de vez em quando, meu pai e eu parávamos de limpar a casa para ver os clipes que passavam na tv. 

costumava contar o dia pra ele enquanto ele lavava a louça. tínhamos uma rotina de brincadeiras durante a noite. boliche, banco imobiliário, futebol, can can e fazer buracos na areia da praia eram meus favoritos. 

fingia que era cabeleireira do meu tio e fazia nele os mais diversos penteados. amava meu cabelo molhado, que ficava mais escuro e domado. era faladeira até dizer chega. e mesmo que alguém dissesse, era difícil eu parar. via toda e qualquer novela que aparecesse, decorava fala, música e reencenava sozinha depois pra mim mesma. 

meu pai costumava me acordar com músicas que eu gostava e era batata, eu acordava na hora achando que a vida era boa. e ela era. ainda é. mas naquela época, eu costumava me sentir à espera de que ela acontecesse. e agora que ela teoricamente acontece, às vezes eu fico na dúvida se gosto do que estou olhando. e vivendo. e pra cada momento, a resposta pra essa pergunta é diferente.
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Foto: Matheus Dorini
Texto: Carol Chagas

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