Quando comenta-se sobre as cenas mais emotivas de Friends, o término de Ross e Rachel, conhecido por roubar lágrimas do público, dispara na frente de qualquer lista sobre momentos da série.
O relacionamento do casal foi esperado por temporadas e, quando de fato acontece, temos a chance de curtir a história deles sendo construída. De primeiras vezes a gestos românticos, ‘Ross e Rachel’ eram a expectativa do amor utópico que toda uma geração sonhava em encontrar. E até mesmo na terceira temporada, quando a relação passa a se tornar mais real e vemos os personagens descobrindo as imperfeições um do outro, é possível enxergar graça nesse laço que parece tão sólido.
Um processo catártico se inicia quando Rachel arruma um emprego de que gosta verdadeiramente. Quando ela resolve querer mais para si. Mesmo dentro de um relacionamento, aquele momento era dela, não do casal. Rachel vivia sua própria narrativa, como que acordando e relembrando o porquê de ter largado seu noivo no altar e não ter voltado para a casa dos pais. Ross se sente inseguro ao não se ver presente em sua vida, como anteriormente. Ele não enxerga esse ponto como algo crucial na história de Rachel, mas sim como um afastamento do romance construído até então. E é aí que as rusgas começam.
Brigas infinitas sobre Mark, sobre a falta de tempo dela para com o relacionamento, sua suposta ausência em momentos e, por fim, crises de ciúme. Tudo culmina para um tempo. Este deveria servir para que cada um tentasse pensar sobre o lado do outro. Ela poderia entender suas inseguranças e ele a trajetória que agora ela vivia. Mas Ross vai para o bar. E Rachel recebe Mark em sua casa. O tempo poderia ter sido apenas isso. Um tempo. Para pensar. Sobre o outro. Sobre o relacionamento que se desgastava pela falta de comunicação e investimento emocional.
Mas quando Ross liga para Rachel e ouve Mark em sua casa, a ânsia em dar o troco e a insegurança de que ele havia sido passado para trás falam mais alto. Rachel se arrepende sobre a infame ligação, se sente profundamente culpada em ter pedido o tempo e em ter recebido o colega de trabalho em sua casa. Ela passa a noite pensando e chega a conclusão a que todos deveriam ter chegado: o relacionamento não precisava ter um fim.
Só que era tarde demais. Ross já havia cometido um erro grande demais para ser ignorado. Ao dormir com outra pessoa e tentar evitar que Rachel descobrisse (ao invés de simplesmente contar pra ela), Ross transforma o tempo em um término. Ele a machuca, pois supõe que está sendo traído e ao sofrer antecipadamente, “se vinga”.
Durante a crise no relacionamento, ele agiu por medo, não por amor. Ir ao escritório da namorada trazer um piquenique sem ser convidado (mesmo ela estando extremamente ocupada), mandar uma banda em seu trabalho, ir a uma palestra sobre moda, por ciúmes de que Mark fosse com ela. Ross passa meses aterrorizado com a ideia de que ele pudesse perder Rachel. E quando o momento acontece, ele percebe que a atitude final que causou o término é sua, não dela.
Quando descobre a traição, a confiança que Rachel tinha em Ross se quebra. Porém Ross desconfiava da namorada há tempos, pois faltava nele confiança em si mesmo. Ele sempre esteve um passo atrás dela. Da conquista ao relacionamento finalmente ter se dado. Ross sempre sentiu que esteve nas mãos de Rachel e, por isso, as tentativas em controlar a namorada. Deixo claro aqui que não o defendo, apenas tento compreendê-lo.
Como uma tentativa desesperada de se defender, ele alimenta a épica discussão “NÓS ESTÁVAMOS DANDO UM TEMPO” como que para justificar seu erro. Ross poderia até estar “tecnicamente” certo sobre o momento. Mas o grande problema aqui, é que esta era a briga errada. Nenhuma ação é isolada de contexto. E o relacionamento dos dois naquele momento era muito mais problemático por parte do personagem, do que por Rachel.
A cada troca de acusações nos episódios seguintes, os dois se machucavam ainda mais. Era como se ao pisar no calo do outro, eles esperassem que alguém pedisse desculpas e assumisse uma culpa que não pode ser carregada apenas por uma pessoa. Quem já terminou, sabe bem. Geralmente, o casal erra, não somente uma das partes.
E não há nada de errado em errar (mesmo que o erro em si não tenha conserto), o que não é legal é deixar de assumir a responsabilidade pelo que não fizemos de certo ali. Somos todos contexto e no fim, não importa muito quem pediu ou deixou de pedir por um tempo em uma relação, mas o que cada um aprendeu a não fazer de novo no próximo relacionamento.
Como que um término mal resolvido, parecemos esquecer os bons momentos vividos entre os dois personagens. Sim, Ross por vezes foi possessivo e controlador. Mas também foi sensível e completamente presente para Rachel.
O grande problema aqui é que ele a colocou num pedestal como sua ex-paixão adolescente e ela o via como alguém real. A rejeição que Ross tanto temia era o mesmo sentimento do nerd que não se achava bom o bastante para estar com a líder de torcida popular do colégio. Ou seja, para se relacionar com ela, ele acreditava precisar possuí-la.
Para mim, os dois deixaram de fazer sentido quando se tornaram amigos logo após o casamento conturbado dele com Emily. Quando Emma nasceu, poderia ali ter surgido uma tentativa de reconciliação. Mas de novo, o orgulho e a falta de confiança ficaram no meio de algo que poderia ser verdadeiro e agora maduro, para os dois. Por isso, penso que o final não fez sentido. Não era o timing, era uma tentativa forçada de ressuscitar uma faísca que já havia sido apagada há tempos apenas para criar um final épico para a série.
Não temos acesso ao que aconteceu após o fim de Friends, mas não posso deixar de imaginar que meses depois (ou até menos tempo), ambos provavelmente terminaram por um motivo fraco demais apenas para provar que como casal, eles não eram fortes o bastante para estarem juntos.
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