Ela já havia sentido, o que costumava chamar de "a grande dor". Mas ali, naquela rodoviária de uma cidade desconhecida e abandonada por multidões, Cecília sentia-se sem rumo. Seus olhos pareciam estar viciados em escoar tudo aquilo que ela não conseguia dizer em voz alta.
Estranhos iam e viam e ela se perguntava se aquilo que ela sentia também iria passar em algum momento. Cecília não tinha perspectiva. Ela tentava encontrar paz no caos, mas a bagunça parecia grande demais.
O mundo e suas questões a sequestravam desde pequena. Mas dessa vez, não havia uma resposta. Ela pensava no esquecimento como solução, mas a dor seria tamanha. A desistência. O atalho mais curto para o alívio poderia acabar numa rua sem saída para todos como num espiral de consequências não planejadas.
Ela só queria ser feliz, mas isso parecia cada vez mais difícil em meio ao entorpecimento do desconhecido que havia nela. Cecília aconselhava amigos, pintava e fazia um tanto de outras coisas pra se sentir inteira. Mas o vazio morava nela e, sempre á espreita, só esperava a hora mais vulnerável de se mostrar visível em seus olhos.
Cecília se colocava numa caixa para proteger-se do mundo, mas mais ainda para protegê-lo dela. Algumas almas que por ela passavam, a diziam "você é maravilhosa". Mas essas pessoas não sabiam o que ela via em si.
A escuridão sorrateira que se acumulava em nuvens explodia em palavras e atos impulsivos que por vezes a faziam mergulhar sem querer num abismo cuja volta leva tempo. Cecília estava cansada das reviravoltas internas que seu coração dava em direção aos buracos que encontrava. Ela não queria mais escalar, parecia não valer o esforço.
Não havia um desejo secreto em ser salva por alguém. Dessa vez, ela só sonhava em ser forte e completa o bastante para si mesma.
- Para fazer parte da nossa Newsletter, clique aqui.
--------------------------------------------------------------
Comentários
Postar um comentário
qual foi a última coisa que você comeu?