O tempo vinha se comportando de forma espaçada. Eu tinha controle e possibilidade de escolher quais ponteiros fariam parte de meu relógio. A cautela se transformou em medo. Receio em sair dali, onde até o meu pulso poderia ser metrificado.
Tudo estava na mais perfeita ordem, só que não havia espaço pra vida correr solta. Nem ela, nem eu mesma. Mas eu estava segura. Nada poderia me machucar. Quem poderia prever a dor que viria de dentro? O entorpecimento. A indiferença. O esquecimento.
Eu estava tão protegida do mundo que resolvi me desproteger pra incomodar aquele medo do que havia lá fora. Uma cachoeira com tudo aquilo que eu nunca quis ver de frente me alcançou. E presa na proteção da cautela, não tive pra onde correr.
Eu tô completamente quebrada de dentro pra fora. Por vezes me resgato de volta. Mas logo estou paralisada novamente. É uma luta diária entre ser feliz e sobreviver. Eu costumava saltitar sem porquês e agora choro também sem motivo algum.
Ter descontrole sobre quem é você é se desconhecer aos poucos. É como fabricar uma bomba-relógio sem saber direito quais fios podem explodi-la. É nunca saber o que encontrar dentro da gente nas mais diversas situações. É se lembrar com remorso e não conseguir explicar o inexplicável.
É ser principiante para sempre. Tudo é sempre novo e intenso. Tanto para a parte boa, como também para a ruim. Queria me saber, mas também queria desistir. Dói demais se remendar de balas perdidas disparadas por um gatilho solto.
Queria ser livre, mas ao mesmo tempo prever minhas reações a cada situação que me encontra nas esquinas.
O problema é que eu sou mar e o tempo pode fechar a qualquer momento.
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