Voltava do mercado. E não conseguia parar de admirar a luz que batia com tudo nas árvores. O exato tom que a gente costumava observar. Daquele tipo que chega no finzinho de tarde, antes de tudo ficar escuro.
Vi um pinheiro do tamanho do mundo e ele me lembrou o cenário de nossos últimos momentos juntos. A gente não conversava muito como antes. Mas nem precisava, nos amávamos um bocado.
Desde que eu era criança, a gente sorria um pro outro sem saber o motivo. E se tem uma coisa que você amava fazer era sorrir. Amava mais ainda fazer os outros sorrirem. E eu amava isso em você.
É vô, um grande comediante fez morada dentro de ti a vida inteira. Cê era tão tímido. E usava o humor como ninguém pra fazer isso passar batido.
Faz dois anos que eu não te telefono aos domingos. Que você não me diz que vai dar uma voltinha todo feliz da vida. Que eu não faço você assistir a programas que você detesta e eu amo. 2 anos sem dizer "um beijo, um queijo".
A vida tá boa. Como sempre foi. Mas às vezes falta você.
Quando como algo que você sempre me oferecia e eu (burra) me recusava a provar. Ou quando me sinto criança de novo. As duas coisas acontecem com frequência.
Você via o melhor em mim e confesso que eu sinto falta disso.
Nunca te vi como alguém mais velho, mas como um garoto atemporal que funcionava como meu melhor amigo imaginário. Você me fez querer carregar essa leveza comigo até o fim do que eu chamo de vida e ser pra alguém o que você foi pra mim.
Certa vez, te perguntei se você tinha medo da morte. Você nunca respondeu. E eu não te perguntei de novo. Até hoje não sei se isso foi uma lição do tipo "não se pergunta isso para as pessoas", se você não sabia ou apenas não queria falar sobre isso.
Quando você ficou doente, me dei conta de que eu podia perder algo na vida. E por me sentir assustada, eu orei. Eu não tinha fé, eu tinha é medo. Vivi alguns anos desse jeito. Aproveitando cada filme nosso, como se fosse o último.
E no momento em que você deixou de fazer parte do meu dia-a-dia, eu passei a pensar que havia te perdido. Só aí passei a dizer que te amava quando te via. Porque quando terminava o abraço, eu sempre me perguntava "seria este o último?". Mas nunca era. Até que um dia foi.
E aí eu percebi que de nada adiantou o medo. Eu não tinha como controlar nada. E também não tinha como te perder. Isso não acontece com o que tá dentro da gente. Às vezes dói, como hoje. Mas na maioria das vezes em que eu encontro um alfajor da turma da mônica ou um celta azul na rua eu me lembro e sorrio.
Bem do jeito que você me ensinou.
Bem do jeito que você me ensinou.
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Foto/Texto: Carol Chagas
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