A roleta gira mais uma vez. As placas tectônicas se chocam. A Terra dá a volta ao redor do Sol. As pessoas pegam seus ônibus, trens, carros e caronas. Cada um com seus horários, compromissos ou qualquer coisa que possa ser anotada na agenda.
Sinto saudade de espaços vazios. Não daqueles físicos, esses tenho de sobra. Mas daqueles que estão soterrados pela pilha de planos e sonhos acumulados que se estende até o final da rua.
Rua essa que nem sei se será a minha nos próximos meses. Descobri que detesto mudanças. Gosto do efeito transformador delas, mas até que elas cheguem eu as resisto ao máximo.
Fujo, corro e me tranco no banheiro. Peço pra sair. E escolho ficar escondida e segura onde existe estabilidade. É inútil e decepcionante. Mas é o meu instinto.
Se as coisas ficam difíceis ou felizes demais, eu preciso ficar sozinha. De preferência com o bloco de notas em branco do meu lado, só por via das dúvidas. Pareço uma criança que bate o pé na esperança de que o mundo responda a um som que é inaudível para todos, menos para mim.
Quando foi que a gente passou a se perder de si mesmo? No primeiro dia de trabalho, faculdade ou encontro? Apenas tenho a sensação de que estou esperando por algo que não faço a mínima ideia do que é ou se vai aparecer algum dia.
Essa menina, que escreve esse texto sem pé nem cabeça, tem medo. De encontrar o que procura e não ser o que ela espera. Ou ainda de nunca saber o que busca e morrer na praia, seja lá o que isso significa.
Talvez eu esteja cansada de pensar, de achar que a minha vida é algum tipo de série que toda hora precisa de uma nova temporada. Estou cansada de ter que recomeçar, seguir em frente e achar que está tudo incrível.
Preciso entender que não tem problema se não estiver tudo ok. Não tenho a obrigação de consertar tudo, até mesmo porque existem coisas na vida que não precisam de conserto.
A gente só passa reto, pula a música e troca o caminho. A roleta vai continuar girando. As placas tectônicas se chocando. E a Terra dando a volta ao redor do Sol.
Algumas coisas talvez nunca mudarão. De lugar, de atitude, de nome. E eu vou continuar fugindo, me escondendo no banheiro e esperando que o meu corpo se adapte ao que mudou. Cada um lida de um jeito. Alguns ignoram, outros aceitam, eu fujo.
Texto: Carol Chagas
Foto: We Heart It
Comentários
Postar um comentário
qual foi a última coisa que você comeu?