A coisa que eu mais odiava, quando era adolescente, eram as pessoas mais velhas falando que eu ia sentir falta do colégio, que eu tinha que aproveitar tudo porque as coisas passam rápido. Eu detestava esse tipo de papo, porque todo mundo que já foi adolescente (ou que se lembra dessa época) sabe que é UM INFERNO NA TERRA ter que aguentar fofoquinhas, intrigas entre “amigas”, bullying, professores pegando no nosso pé, lição de casa, provas, não ter dinheiro, não poder sair sozinha quando bem entender… Só pra começar. Mas então que diabos as pessoas vão sentir saudade da época de colégio? Ser adolescente é um martírio, como é que alguém pode preferir ser adolescente a ser adulto?
Bom, conversando com uma amiga ontem, ela falou uma frase que me inspirou muito: “era melhor ser adolescente e ter todo um planejamento pela frente, do que chegar agora, aos vinte e poucos anos e ver no que a nossa vida está se tornando e não ter nada o que fazer a respeito”. Eu juro que isso não é pessimista. Tá, talvez seja um pouco.
A verdade é que enquanto a gente é criança e adolescente, nossa vida está toda planejada por outras pessoas. Nossos pais e professores sabem o que é melhor pra gente, nos mantém na linha e nos cobram responsabilidades. Mas se você perguntar pra qualquer adolescente, ele sairia correndo dali no mesmo instante. Quando esse adolescente ~vira gente~, as decisões ficam pra cima dele: que vestibular você vai fazer? Pra qual faculdade? Já arrumou estágio? Em que área você quer trabalhar? É tipo sair da primeira fase do jogo no modo easy e do nada ser jogado pro último chefão no nível hard.
Por isso rola uma crise de ser bombardeado por mil decisões ao mesmo tempo e, ainda por cima, o medo de fazer as escolhas erradas. Ora, meus pais conseguiram me manter viva por 17, 18 anos… E agora eu vou lá e jogo fora todos esses anos de educação fazendo… artes plásticas. Ou qualquer outro curso que pareça super legal, mas não vai me dar um tostão depois de formada.
A dificuldade em ser adolescente é enxergar que as decisões que estão sendo tomadas POR nós não são castigo e, na maioria, são pro nosso bem. Já a dificuldade em ser adulto é ter que encarar essas decisões sozinho e não pedir nem uma ajudinha pros seus pais. Ou então, se você fracassar, saber que não vai ter uma recuperação, trabalhinho valendo nota nem nada do tipo pra te ajudar a sair do buraco. Na vida adulta você está sozinho e se você se der mal, ninguém liga.
Eu e meus amigos estamos naquela fase onde a faculdade já acabou e temos que decidir onde trabalhar ou, no caso de alguns, engatar logo um mestrado. A gente tenta se acostumar com a ideia, mas não dá pra evitar: uma decisão vai ter que ser tomada, cedo ou tarde. Parece que no final das contas, não dá pra vencer: ser adolescente é bem ruim e ser adulto também é bem ruim. Não dá pra pensar que crescendo nossos problemas vão desaparecer ou ficar mais fáceis. Eles ficam tão difíceis quanto a gente pode lidar. Por isso, em perspectiva, ser adolescente parece ser mais fácil: porque já passamos por aquilo e já superamos aquela situação.
Não me entenda mal, ser adulto é legal! A gente tem nosso próprio dinheiro, não tem que ir pro colégio pra aprender “coisas inúteis”, como química e física, não precisa pedir permissão pra fazer nada… Mas às vezes a permissão faz falta, pra gente ter um norte: se meu pai não deixa, não deve ser legal.
O texto foi escrito por Luísa Clasen (do Vlog: Lully de Verdade) e postado no blog Depois dos Quinze. Na Tag No Fundo do Armário, postamos textos de diversos autores. A foto também é a mesma utilizada no post original.
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